30 de outubro de 2008

Tempo Tempo Tempo Tempo - Sábado, Fevereiro 23, 2008


Acordo e tudo mudou. Chiclete não é mais tão gostoso, trufa de brigadeiro é doce demais e o Fidel não está mais no poder. Estou envelhecendo.

Um jornal inteiro sobre o ex-presidente cubano. Meus netos nem saberão quem ele foi. Talvez decorem para a prova e esqueçam depois. Será que até lá o Che ainda vai ser estampa de camisetas? Isso me faz pensar na beleza do tempo, de como a vida é algo muito maior que política, pessoas e ideologias. Paro de achar tudo tão belo quando vejo, na área de publicidade, rostos aprovados no vestibular. Não conheço mais ninguém! Nem irmãos caçulas.

Antigamente eu conhecia todo mundo. Velha. Opa, finalmente reconheço um. É ele! Não acredito. O menino bonito. Mas no jornal de vestibulando? Deve ter o que? Dezoito anos? Talvez até dezessete. Oh, céus. Até uns anos atrás pessoas bem mais novas que eu eram crianças, não incomodavam. Agora eles são grandinhos, estão pelos bares, pelas ruas, confundidos e confundindo. Droga. Estou envelhecendo.

Resolvo tomar um sorvete. Parece que o sorveteiro está mal de saúde, é bom correr. Fico me sentindo a mais fria entre os mortais, pois só me preocupa a sobremesa e não o pobre, que passou por várias cirurgias no coração, mas estamos falando do sorvete de doce de leite, o melhor sorvete de todos os tempos, meu sorvete favorito desde criancinha. Tomo com o prazer e a dor de uma despedida. No fim concluo que nem estava tão bom assim. Achei aguado. Seria eu o problema? Eu que estou envelhecendo e ficando chata, ou ele que envelheceu e perdeu a mão? Tomo outro de ameixa ao rum. Muito bom. Vem na minha mente “agora ele pode morrer” e eu me recrimino em seguida.

Voltando para casa reparo que não tem mais o puteiro de sempre na minha rua. Como assim? Pra onde ele foi? Demoliram, meu Deus! Minha rua ficou sem graça agora. Poxa, quais outras ruas tinham o glamour de ter uma casa azul de janelas rosas, escrito Boite Cherry Marta na porta? Era uma ótima referência para os entregadores de pizza. Lembro do dia que conheci a proprietária. Fui ao supermercado comprar alguma coisa para minha mãe e ela estava lá, conversando animadamente com o caixa, com um saco de mangas que tinha apanhado no quintal. Entrei na conversa, que era sobre guaraná e tubaína. Na hora de ir embora ela me deu uma das mangas. Senhora simpática. Mais tarde me disseram o que ela era, e que eu não deveria conversar com gente assim, pois poderiam me confundir e outras bobagens. Acho que comecei a envelhecer ali.

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